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CFFa define atuação em Motricidade Orofacial com finalidade estética

Jornal do CFFa – ano IX – número 37 – abril/maio/junho de 2008

O Conselho Federal de Fonoaudiologia publicou no Diário Oficial da União de 8 de abril a Resolução CFFa nº 352, de 5 de abril deste ano, que "dispõe sobre a atuação em Motricidade Orofacial com finalidade estética" (veja o texto integral da resolução na página 8 desta edição).
O texto final deste documento foi resultado de estudos aprofundados, que envolveram os Conselhos Regionais de Fonoaudiologia, as Assessorias Técnica e Jurídica do Conselho Federal de Fonoaudiologia e a Diretoria e o Departamento de Motricidade e Funções Orofaciais da Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia (SBFa), além de fonoaudiólogos que já atuam na área. A Resolução, ao disciplinar a atuação do fonoaudiólogo em Estética, apontou objetivos e cuidados e tornou claro os limites dessa atividade.
A presidente do Conselho Federal de Fonoaudiologia, Sandra Maria Vieira T. de Almeida destaca que a resolução levou em conta que a intervenção nos padrões estéticos da face envolve profissionais de várias áreas, inclusive da Fonoaudiologia. "A resolução deixa bem clara em seus 'considerandos' que as alterações musculares faciais podem ser desencadeadas pelo envelhecimento, pela atividade muscular deficiente e/ou excessiva ou por distúrbios orofaciais e/ou cervicais, e afirma que a 'atuação fonoaudiológica em Motricidade Orofacial com finalidade estética visa avaliar, prevenir e equilibrar a musculatura da mímica facial e/ou cervical, além das funções orofaciais, buscando a simetria e a harmonia das estruturas envolvidas, do movimento e da expressão, resultando no favorecimento estético'", conclui. A Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia foi consultada sobre a existência de trabalhos científicos especificamente sobre o tema Fonoaudiologia Estética. "Realmente há poucos trabalhos nessa área mas, no parecer da SBFa, este não deve ser o único critério de avaliação da pertinência ou da apropriação desta atuação pela Fonoaudiologia", esclareceu a profa. Dra. Fernanda Dreux Miranda Fernandes, presidente da SBFa, ao Jornal do CFFa. "Discutimos com o Conselho Federal de Fonoaudiologia sobre o corpo de conhecimento que está disponível ao fonoaudiólogo e sua formação científica que o habilita para atuar com a musculatura orofacial, o que fundamenta seu trabalho na área de Fonoaudiologia Estética. Concluímos que não há a obrigatoriedade ou necessidade de produção específica antes que o fonoaudiólogo desenvolva sua atuação.
A Fonoaudiologia não é uma área experimental e a produção científica surge, normalmente, depois dos trabalhos clínicos desenvolvidos".

Intervenção com interação
Para a dra. Débora Cattoni, fonoaudióloga e membro do Departamento de Motricidade e Funções Orofaciais da Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia (SBFa), "o fonoaudiólogo, com conhecimento aprofundado em Motricidade Orofacial, está apto a atuar com Estética Facial, uma vez que o reequilíbrio da musculatura e reeducação das funções orofaciais geram efeitos positivos sobre a musculatura orofacial,melhorando rugas, sulcos e flacidez, entre outros aspectos". A dra. Débora, que é especialista em Motricidade Oral e doutora em Ciências da Reabilitação pela FMUSP, faz apenas uma ressalva. "Por ser uma área nova, sem corpo de conhecimento científico formado, cuidados redobrados devem ser tomados na prática profissional, como a utilização de procedimentos apropriados e de competência do fonoaudiólogo, adequação de local de atendimento, trabalho planejado individualmente, a partir de diagnóstico bem realizado e adequada determinação de prognóstico, a fim de se evitar resultados milagrosos".
A fonoaudióloga Magda Zorzella, de São Paulo (SP), que atua desde 1998 com Fonoaudiologia Estética, especialmente no trato do envelhecimento com saúde, manifestou sua alegria por encontrar, com a resolução do CFFa, um respaldo legal para sua atividade profissional.
É o mesmo ponto de vista da fonoaudióloga Silvia Regina Pierotti, de São Paulo (SP), que há três anos coordena cursos de aperfeiçoamento em motricidade orofacial em estética. "A resolução do CFFa deu o respaldo que era aguardado e o aparato legal necessário. A Fonoaudiologia deu um passo neste século 21. A grande diferença é que antes tínhamos um olhar funcional e agora temos um olhar estéticofuncional. Esta é uma área que cresce a cada dia e, no momento em que é apresentada a um dermatologista ou a um cirurgião plástico, a possibilidade de parceira multiprofissional fica evidente". A resolução chegou em uma boa hora, para o fonoaudiólogo Regis Antonio Ribeiro de Lima, que atua em Curitiba (PR). "É exatamente a regulamentação desta modalidade de atendimento que o fonoaudiólogo precisava." É o mesmo posicionamento da conselheira-suplente Luciana Ulhôa Guedes, de Belo Horizonte (MG), em parecer que elaborou para o CFFa, onde destaca que a intervenção sobre os aspectos anatômicos e funcionais pode envolver a interação de diversos profissionais. "Partindo-se da premissa de que as pesquisas são estruturadas a partir de uma questão ou dúvida clínica, trata-se de um desdobramento natural a conquista de novas áreas de atuação e diferentes procedimentos terapêuticos".
Segundo Silvia Pierotti, “o conhecimento de anatomia e fisiologia normal e alterada dos dentes, ossos, músculos, nervos e tecidos moles e suas implicações para efetividade das funções estomatognáticas, dá ao profissional especialista em motricidade orofacial habilidade para analisar e interpretar os dados relacionados à condição orofacial e cervical e tratar modificando posturas, promovendo a adequação dos músculos e reeducando as funções, criando o equilíbrio necessário para outros procedimentos estéticos”. Para a fonoaudióloga, “alterações dessas funções (mastigação, sucção, fonoarticulação, deglutição e respiração) muitas vezes, podem interferir, significativamente, na harmonia facial, formando rugas e até sulcos mais profundos, que podem comprometer os resultados de procedimentos realizados pela medicina estética”. Uma avaliação fonoaudiológica prévia pode contribuir com o diagnóstico médico e possibilitar a conquista de resultados mais efetivos e, até, mais duradouros.
O depoimento da dra. Marilene Ughini, médica dermatologista em Passo Fundo (RS) confirma essa interdisciplinaridade. "Os fonoaudiólogos sabem trabalhar a musculatura da face e todos nós conhecemos a importância dos exercícios faciais para a prevenção de flacidez e ajudar a retardar o envelhecimento. É ainda por puro desconhecimento nosso, como profissão, que não utilizamos o fonoaudiólogo nessa área de atuação".

Moldura da comunicação
A fonoaudióloga Mariléa Fontana, de Passo Fundo (RS), lembra a "moldura" existente no cenário comunicativo dado pelos gestos e expressões faciais. "Os gestos acompanham o que queremos dizer, destacam aspectos da mensagem". "Quando nos comunicamos, interagimos com nossos interlocutores, através de traços lingüísticos e extralinguísticos", destaca Mariléa, que além de docente da Universidade de Passo Fundo é tambémconselheira-suplente do CFFa. "A cada um destes aspectos cabe uma parcela da compreensão de nosso discurso, pois além das palavras, o tom de voz, as modulações de ênfases, prolongamentos, auxiliam nesse processo tornando nosso diálogo mais expressivo". Ela vai mais além. "Além da linguagem corporal que ocorre através dos gestos, há algo de extrema importância que faz parte deste contexto, que é a expressão facial e que também faz parte da comunicação extralinguística. A face serve de forma magistral na transmissão de emoções, dando assertividade a notícia, credibilidade ou questionamento do que esta sendo dito. Podemos verificar isto através da linha do olhar, pelos lábios que denotam vários aspectos da interpretação. Isto tudo é realizado pela mímica facial, através da musculatura da face". "Os músculos da face, como todo e qualquer músculo do corpo necessitam ser exercitados para manter seus tônus e movimentos adequados", continua a fonoaudióloga. "Para isto funções e elementos do Sistema Sensório Motor Oral devem estar em equilíbrio. Quando estamos cansados ou com o passar do tempo e dos anos há menor versatilidade nestes movimentos pois o estado desta musculatura fica mais debilitado, pode haver um comprometimento e por conseqüência também a expressividade da comunicação poderá ficar comprometida". Mariléa conclui que a expressividade da comunicação passa pela musculatura facial e pelos movimentos musculares que dela provém. "Esta movimentação pode ser feita de forma espontânea, através dos movimentos habituais que realizamos no dia a dia, mas também podem ser feitos de forma mais direta e intencional e disto se vale a fonoaudiologia para fins estéticos". O rosto é extremamente valorizado, tanto por homens quanto por mulheres. Manter uma boa aparência e retardar os sinais do envelhecimento é uma preocupação que vem crescendo a cada dia. Graças aos avanços da Medicina, há progressos que contribuem para uma vida mais longa e saudável. A fonoaudióloga Silvia Pierotti afirma que "envelhecer é um processo natural, mas todos querem parecer jovens, bonitos e saudáveis. Não existe, porém, um único procedimento capaz de reverter todas as mudanças decorrentes do envelhecimento, e sim uma combinação deles. O tratamento fonoaudiológico, combinado a outros procedimentos, otimiza e pode dar maior durabilidade aos resultados".
A atuação profissional com finalidade estética também abrange questões relacionadas a paralisias faciais ou más formações congênitas, conforme ressalta a fonoaudióloga Zelita Guedes. “A Paralisia Facial Periférica Adquirida causa deformidades importantes na face do paciente. Depedendo da etiologia, sua gravidade pode ser maior ou menor e seu desaparecimento pode ocorrer ou não. Nos casos idiopáticos, normalmente há uma melhora rápida e a ajuda do fonoaudiólogo é bastante compensadora, principalmente na mímica facial”. Para Zelita Guedes, “quando as causas são traumas ou problemas cirúrgicos, o resultado pode ser mais limitado, mas a terapia fonoaudiológica colabora principalmente nas seqüelas funcionais (mastigação, sucção). Em muitos casos, a mímica pode ser reabilitada, com pequenas seqüelas. Nos casos de Paralisia Facial Congênita (Seqüência de Möbius) tanto a mímica como as funções devem ser habilitadas, pois os pacientes não as possuem”.

Presença no envelhecimento...
A fonoaudióloga Silvia Pierotti dá um exemplo prático. "Na contração muscular desnecessária que vejo em um paciente, vou conscientizá-lo para eliminar esse problema. Com o envelhecimento, o músculo vai ficando mais flácido, o tônus mais rebaixado. Ao fortalecer essa musculatura, a sustentamos por um tempo maior e retardarmos os sinais de envelhecimento"
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"Não há nenhum procedimento com efeito colateral", faz questão de lembrar Silvia Pierotti. "Utilizamos um método natural, que permite que o paciente crie uma consciência de sua atividade muscular, um autoconhecimento e uma reeducação funcional e muscular".
Os pacientes que Magda Zorzella atende são, todas, pessoas de uma faixa etária avançada, acima de 50 anos, que percebem o envelhecimento na face em forma de sinais, como as rugas de expressão. "As rugas são o resultado de uma contração repetitiva dos músculos, que fazemos durante as nossas funções naturais. No meu trabalho, eu reequilibro as funções estomatognáticas – mastigação, deglutição, articulação, expressão... – com um trabalho natural e não invasivo para propiciar qualidade de vida.
Magda Zorzella conclui: "Readapto os movimentos tradicionais da Motricidade Orofacial, de forma que não gere contração no rosto da pessoa. Trabalho a função em primeiro lugar, com o alongamento de uma musculatura que está contraindo demais. Com isso o paciente ganha em qualidade de vida e, de quebra, se vê no espelho com um rosto mais rejuvenescido".

Técnicas e recursos
"Na estética da face, a atuação fonoaudiológica procura prevenir, adequar e reequilibrar os músculos da mímica facial, craniocervical e das funções orofaciais que podem estar alterados pelo envelhecimento, por atividade muscular excessiva e ou por distúrbios orofaciais e cervicais. Este trabalho proporciona uma aparência mais agradável, com expressões mais suaves e esteticamente harmoniosas, e resulta em um melhor funcionamento de todo o complexo orofacial e cervical", afirma a fonoaudióloga Silvia Pierotti no capítulo "Terapia Estética Muscular e Funcional" de livro prestes a ser publicado. "É campo de saber do fonoaudiólogo a compreensão das estruturas e funções do complexo cérvico-facial em seus diferentes aspectos", continua Luciana Ulhôa. "A utilização de exercícios como recurso terapêutico é tradicionalmente empregada na clínica fonoaudiológica. Estas possuem um variado espectro de técnicas e também de efeitos fisiológicos sobre as estruturas da face e pescoço". As aplicações de exercícios nas áreas de voz, fluência, disfunções temporomandibulares, paralisia facial, queimados e traumatismos faciais, entre outros, são freqüentemente descritas na literatura especializada.
Para Luciana, "de acordo com a indicação terapêutica , eles podem promover no tecido relaxamento, ativação contração muscular, ganho de mobilidade, ativação da circulação sanguínea e alívio de dor, dentre outros efeitos".