Artigos - 4º Trimestre/2002 Ano 5-Nº22


"Fonoaudiologia e Dermatologia :Um Trabalho Conjunto e Pioneiro na Suavização das Rugas de Expressão Facial" - Revista Fono Atual

FONOAUDIOLOGIA E DERMATOLOGIA: UM TRABALHO CONJUNTO E PIONEIRO NA SUAVIZAÇÃO DAS RUGAS DE EXPRESSÃO FACIAL

Magda Zorzella Franco
Luciane Scattone


RESUMO
Este artigo tem por objetivo relatar, a partir de um estudo de caso, como se iniciou o trabalho de Motricidade Orofacial diretamente relacionado à suavização das rugas de expressão facial, bem como a parceria entre as áreas da Fonoaudiologia e da Dermatologia. Percebeu-se, através desse estudo, a existência de um estreito relacionamento entre as marcas/vincos de expressão e o uso que se faz ao longo do tempo da musculatura orofacial. Diante dessas constatações, iniciou-se um trabalho conjunto, visando a prevenção e a diminuição dessas rugas, através do reequilíbrio das funções estomatognáticas e do relaxamento da musculatura.

UNITERMOS: Rugas de expressão; estética facial; funções estomatognáticas; fonoaudiologia; dermatologia.

ABSTRACT
Starting from a case study, the aim of this article is to give an account of how the oral motricity work has begun directly related to the softening of facial _expression wrinkles, as well as a partnership between the Speech Pathology and Dermatology areas. Through this work, it was noticed the existence of a straight relationship between the _expression marks and wrinkles and the use of the orofacial muscles throghout time. Due to these verifications, a conjoined work has been started, seeking the prevention and/or decrease of wrinkles through the balance of oral motor functions and muscle relaxation.

KEY WORDS: _Expression wrinkles; facial estetic; oral motor functions; speech pathology; dermatology.

INTRODUÇÃO
A busca pela beleza e pela juventude tem sido uma constante em todas as culturas da história humana. Manter uma boa aparência e não envelhecer são conceitos cultuados desde as mais remotas civilizações e hoje em dia estão cada vez mais valorizados.

A humanidade tem estudado a respeito de sua aparência por milhares de anos, sempre com relação íntima entre o físico e o espiritual.

Etcoff (1999), quando analisa a natureza do belo, coloca que inúmeras são as definições de beleza no decorrer do tempo e todas ligadas ao contexto antropológico do momento. Para os gregos antigos a beleza era vista como um sexto sentido. Para artistas como Leonardo da Vinci, a beleza residia na simetria. Platão acreditava que a beleza tornava visível o espiritual; explicou o estranho poder da beleza, sua misteriosa capacidade de despertar a beatitude estética. A beleza desperta um desejo sem limite de ver e imaginar uma forma humana ideal.

Nenhuma definição, no entanto, capta inteiramente o seu significado. Não se pode limitar a beleza e a estética à harmonia estrutural e equilíbrio absolutos, mesmo porque pessoas que não são fisicamente perfeitas podem ser consideradas bonitas por outras características.

Pode-se dizer inclusive que beleza e juventude são uma questão de “estado de espírito”, independentes da idade e totalmente vinculados ao mundo interior de cada um. Relacionam-se com a auto-estima, refletem o equilíbrio das emoções, a saúde fisicomental e revela a fundo a natureza da alma humana.

No entanto, todo o indivíduo procura ter uma aparência que agrade a si próprio e aos que estão ao seu redor. Cuidar-se externamente é uma forma de se sentir bem (ou melhor) em sua vida. Sob esse aspecto, vale acrescentar que um toque de vaidade é necessário para que o indivíduo cuide de “si próprio”, “de seu corpo”, “de sua alma” e “de sua saúde”. Beleza, juventude e vaidade , portanto, caminham juntas.

Ultimamente a busca pela estética tem levado as pessoas a se preocuparem em demasia com sua aparência. Valoriza-se muito uma face bonita, jovem e cuidada.

Segundo Macedo (1998), nos últimos anos, a preocupação com o envelhecimento facial tem se tornado crescente em face da maior longevidade do indivíduo e dos avanços da medicina.

Por ser a face altamente valorizada como o segmento corpóreo mais representativo da pessoa e como centro das atenções para uma busca estética, a sua alteração, com a chegada da velhice traz inúmeras preocupações (Madeira, 2001).

O aparecimento das rugas de expressão facial assusta, incomoda, chegando muitas vezes a ser motivo de angústia. Com o avanço da idade a história do indivíduo vai sendo gravada em sua face. Indiscutivelmente não existe um local onde o tempo deixa mais marcas...

Verdadeiros milagres são produzidos para tornar uma face estética e bela (Madeira, 2001). Inúmeros são os profissionais que ao colocarem em prática suas especialidades estão colaborando também com essa busca pessoal incansável por uma face mais bonita. Dentistas, ortodontistas, bucomaxilofaciais, cirurgiões plásticos, dermatologistas, oftalmologistas, esteticistas e outros desenvolvem métodos preventivos e corretivos que buscam auxiliar o equilíbrio facial.

A Fonoaudiologia, através da Motricidade Orofacial, também acaba por se preocupar com este aspecto. Ao trabalhar com os indivíduos portadores dos mais variados distúrbios orais miofuncionais, buscando modificar posturas, aprimorar funções e alcançar equilíbrios orais mais satisfatórios, obtém como resultante também uma face esteticamente mais harmoniosa.

O que se pretende enfocar através deste artigo é o início do trabalho fonoaudiológico diretamente ligado às questões da estética, da beleza e do antienvelhecimento (ou rejuvenescimento) numa parceria com a área dermatológica.
Através do caso clínico que será relatado a seguir, procura-se demonstrar de que forma o fonoaudiólogo pode colaborar na suavização das rugas de expressão facial e em que circunstâncias esse trabalho se desenvolve.

CONTEXTO DERMATOLÓGICO
As rugas de expressão facial são conseqüência de contrações musculares repetidas e poderão variar sua distribuição e intensidade de acordo com a idade, raça e tempo de exposição solar da pele.

Os tratamentos feitos no decorrer dos últimos anos incluem a cirurgia plástica convencional; peelings químicos; preenchimentos; laserterapia e aplicação da toxina botulínica tipo A.

Serão citadas, a seguir, as técnicas empregadas no consultório dermatológico especificamente para esse caso em questão.

1 - Peelings 
É a aplicação de um ou mais agentes químicos esfoliantes com a finalidade de promover uma descamação (superficial, média ou profunda). 
Foram utilizados peelings seriados de ácido retinóico na concentração de 1% a 5%. (Cucé et at., 2001).

2 - Técnica de preenchimento 
Esta técnica visa preencher sulcos e depressões (rugas, cicatrizes). 
Foi utilizado o ácido hialurônico pela facilidade de não necessitar de testes prévios, devido ao baixo índice de reação local e por permanecer no organismo em torno de oito meses.

3 - Toxina botulínica do tipo A 
É uma neurotoxina produzida pela bactéria anaeróbica Clostridium botulium, que aplicada no músculo atua sobre a placa motora inibindo a liberação de acetilcolina e a conseqüente contração muscular. 
Utilizada inicialmente, por A. Scott, oftalmologista, em 1980, no tratamento de estrabismo infantil, apenas em 1992 começou a ser usada para a estética facial. Embora ainda sejam controvertidas as opiniões sobre os locais da face em que ela deve ser utilizada, sua indicação mais freqüente é para o terço superior da face (regiões frontal e periorbital), com duração em torno de quatro a seis meses. 
A respeito de sua aplicação na região perioral, acredita-se que por ser a boca responsável por tantas funções que dependem dessa musculatura, seu uso deveria ser restrito ou evitado (Ascher, 1995; Carruthers Carruthers,1998).

HISTÓRICO DERMATOLÓGICO DO CASO
Sexo feminino, 35 anos, branca, professora, em tratamento estético há um ano para manchas e rugas periorbitais, frontais e principalmente periorais.

Foi submetida a dois peelings superficiais para clarear as manchas e revitalizar a pele. Também fez uso da aplicação da toxina botulínica na região frontal e periorbital, com excelente resultado.

Na região perioral foram realizados dois preenchimentos do sulco nasolabial e das rugas com ácido hialurônico de média viscosidade. Notou-se, porém, a formação de cordões sobre os vincos pré-existentes causados pelo produto, intensificando as rugas.

A paciente apresentava rugas bem definidas ao redor da boca em repouso e falava contraindo os lábios para frente proporcionando sulcos vincados, bem aparentes, talvez justificados pela profissão que ela exerce. O modo de falar da paciente e a contração muscular exagerada, que a paciente fazia para se expressar verbalmente, foram os motivos que levaram a dermatologista a solicitar ajuda da fonoaudióloga.

CONTEXTO FONOAUDIOLÓGICO

A - Dados do paciente: 
Sexo feminino, 35 anos e 5 meses, casada, mãe, profissional atuante da área da Educação (professora)
B - Descrição do caso: 
A paciente recorreu à intervenção fonoaudiológica em setembro de 1998 por indicação da dermatologista, com a queixa de apresentar vincos sulcados ao redor da boca. 
Na anamnese a paciente referiu não apresentar hábitos orais, não fumar, mastigar apenas do lado direito, fazer dieta alimentar usando alimentos com pouca dureza, falar muito socialmente e especialmente durante o trabalho, quando necessita ser muito expressiva. Já apresentou muita tensão na região cervical, que foi controlada por tratamento fisioterápico (RPG). Mencionou estar trabalhando muito nesse período do ano quando aumentam as exigências e demandas em seu emprego. 
Através da avaliação da Motricidade Orofacial (exame miofuncional baseado em Altman (1987), Felício (1994) e Marchesan (1997), contatou-se as seguintes características: 
- Contração exagerada dos músculos da face, com ênfase no orbicular da boca e risório, tanto em repouso como em movimento. 
- Articulação exacerbada com protrusão excessiva do músculo orbicular da boca durante a fala; presença de vícios de expressão durante o diálogo (ex. hum! hum! com contração do risório). 
- Mastigação unilateral direita, com pouca rotação e força. Inexistência de impedimento no uso do lado esquerdo. 
- Assimetria da musculatura das bochechas com hipofunção do lado esquerdo, por não haver trabalho mastigatório desse lado. 
- Abertura de boca com ruído de ATM, sem dor, sugestiva do uso intensivo do lado direito durante a mastigação. 
- Deglutição com contração perioral abusiva e excesso de movimentos associados (olhos e testa). 
- Postura de língua adequada tanto em repouso como na função da deglutição; 
- Respiração nasal. 
- Arcada em classe I e tipologia facial média.

C - Conduta terapêutica: 
Após discussão do caso com a dermatologista propôs-se um planejamento terapêutico específico, com o objetivo geral de “relaxar” a musculatura dos terços médio e inferior da face. Essa abordagem priorizou diminuir a contração exagerada desses músculos visando desta forma aliviar essa região. Segundo Madeira (2001), a contração dos músculos da face movimenta a área da cútis, à qual estão fixados, produzindo depressões em forma de linha ou fossa que com o passar do tempo se transformam em pregas ou rugas. Partindo desta idéia, procurou-se enfocar o trabalho com relaxamento e alongamento da região oral e perioral, somado ao reequilíbrio das funções estomatognáticas, como forma de suavizar o hiperfuncionamento dessa musculatura, evitando, desta maneira, a continuação do processo de formação de rugas. 
A terapêutica teve início através do trabalho de orientações básicas e conscientização, informando a paciente sobre o funcionamento adequado das estruturas orais e das funções (mastigação, deglutição e fonação) bem como de posturas a serem modificadas. Mostrou-se também à paciente a importância de perceber e diminuir o excesso de tensão ao redor da boca, despertando seu interesse por alcançar um novo padrão. Solicitou-se que mantivesse esse controle em seu dia-a-dia. Para Marchesan (1993), à medida que o paciente aprende e partilha com o terapeuta sobre o funcionamento das estruturas orais, discutindo o trabalho e sobre si próprio, as modificações ocorrem de forma natural. 
É importante o terapeuta reproduzir o que a pessoa faz, a fim de lhe dar maior clareza, espelhando seus movimentos, para que possa reconhecê-los. Ao comparar os padrões, reconhecendo diferenças e novas possibilidades, mudanças vão ocorrendo e novos equilíbrios vão sendo alcançados (Felicio, 1994). Foram dadas orientações referentes a mudanças na alimentação, principalmente no que se refere à consistência dos alimentos, enfatizando a importância dos alimentos com maior dureza. Essas orientações básicas que incluíram também cuidados com a pele e com fatores que colaboram com seu envelhecimento (citados mais adiante) deram o suporte necessário para a continuidade do processo. 
Em seguida, abordou-se um trabalho composto por massagens, alongamentos e movimentos específicos (que serão a seguir exemplificados), visando aumentar a propriocepção e a circulação sanguínea, promovendo conseqüentemente, a descontração da musculatura envolvida. 
Através da massagem estimulam-se mecanicamente os tecidos moles, o que tem, entre outros, efeitos relaxantes ou tonificantes por estimular receptores nervosos musculares, tendinosos articulares e cutâneos (Santos, 2002). 
* As massagens foram aplicadas sobre a região dos vincos, através do uso do vibrador, do massageador facial e da manipulação da região oral e perioral, visando relaxar essa musculatura e desmanchar esse vincos existentes. Os músculos da expressão facial abordados foram: orbicular da boca, risório, levantador do lábio superior, levantador do lábio superior e da asa do nariz, nasal, depressor do lábio inferior, depressor do ângulo da boca, mentalis e platisma.

Exemplos: 
- Alavanca: com os dedos indicador, médio, anelar e mínimo massagear de cima para baixo a região do lábio superior com uma certa pressão, estando o polegar apoiado sob a mandíbula. Realizar esse deslizamento por cinco tempos, lentamente, e observar a descontração. Repetir. Em seguida compensar lábio inferior, massagendo de baixo para cima. 
- Deslizar vibrador na região do lábio superior no sentido de cima para baixo e depois compensar o lábio inferior no sentido contrário. Manter vibrador no sentido vertical sobre o sulco nasolabial direito e posteriormente sobre o esquerdo. Repetir. Perceber alívio. 
O alongamento muscular permite que o músculo recupere seu comprimento necessário para manter-se em equilíbrio, garantindo sua integridade e função (Gashu et al.,2001). 
* Os alongamentos da musculatura da expressão facial visaram ampliar a extensão de suas fibras e conseqüente diminuição de sua hiper-contração. O aparecimento das pregas ou rugas geralmente costuma ser perpendicular à direção das fibras dos músculos da expressão facial que as geram através de suas contrações repetidas. Esse procedimento, portanto, é feito sobre as fibras e não sobre os vincos. Foi dada ênfase aos músculos orbicular da boca, risório, zigomático maior e menor, levantador do lábio superior, levantador do lábio superior e da asa do nariz, levantador do ângulo da boca.
Exemplos: 
- Alongamento circular sobre o orbicular da boca. Inicia-se na região do filtro no sentido horário ,repetindo-se o giro três vezes. Repetir no sentido anti-horário. Sentir a descontração. 
- Alongar as fibras dos músculos zigomático maior e menor com ambas as mãos do centro da bochecha esquerda, por exemplo, em direção à boca (mão direita) e canto dos olhos (mão esquerda). Perceber o alongamento. 
*Alguns movimentos tradicionalmente utilizados na terapia miofuncional foram parcialmente modificados no sentido de gerarem também relaxamento e alongamento da musculatura orofacial.

Exemplos: 
- Ao tentar produzir ”boca de velha” alongar lábio superior para baixo e lábio inferior para cima, manter o alongamento por três tempos e no final produzir um pequeno estalo (que é o menos importante). Sentir o alívio gerado. Repetir. 
- Alongando lábio superior para baixo, tentar varrer esse mesmo lábio, de cima para baixo, com os dentes inferiores repetidas vezes (não é preciso tocar lábios com os dentes, o importante é o movimento), bem devagar. Perceber a sensação. Repetir. 
- Dissociação de movimentos: levantar e abaixar a língua dentro da boca sem gerar nenhum outro movimento facial. Repetir, lateralizando a língua. 
Todos esses procedimentos e movimentos foram abordados de forma paralela ao reequilíbrio miofuncional. Para Marchesan (1983), o trabalho com massagem pode ser utilizado, desde que haja concomitantemente tentativas de uso daquela estrutura trabalhada. 
Em outras palavras, o uso adequado das funções estomatognáticas dará condições para que as estruturas envolvidas consigam funcionar e se manter em equilíbrio (Franco, 1998). 
Dando continuidade ao processo, foram trabalhadas as funções da mastigação, deglutição e fonação com os seguintes objetivos: 
- Reequilibrar a mastigação, procurando levar a paciente a fazer uso de ambos os lados, alternadamente, com movimentos de rotação e maior amplitude de uso. Esse treino foi realizado com damasco por ser um alimento seco, duro e fibroso, que exerce um bom estímulo para o aprendizado da mastigação. Acredita-se que esse trabalho leva a uma ginástica fisiológica que normaliza a musculatura envolvida. 
Uma vez aprendida, a mastigação deve ser conservada pois seu treino constante passa a ser o responsável por uma mecânica mastigatória madura e pelo equilíbrio do sistema estomatognático (Franco, 1998). 
- Reequilibrar a deglutição, procurando demonstrar à paciente e levá-la a perceber que ao deglutir com sua postura individual de língua (dependente de suas características anatômicas) dentro do espaço intraoral, os movimentos e a força são apenas internos e a musculatura perioral permanece em repouso, sem necessidade de mecanismos compensatórios. Desta forma, obteve-se como resultante uma descontração dessa musculatura que anteriormente era usada de forma intensa e repetitiva. Esse alívio, em seguida, “se apresentou” como uma suavização dos vincos de expressão. O treino da deglutição foi realizado na frente do espelho com água e com a deglutição final da mastigação do damasco. 
- Reequilibrar a fonação, através da revisão do ponto e modo de articulação de cada fonema e através da suavização do uso dos movimentos da expressão facial durante a fala. Procurou-se também eliminar os vícios de expressão usados durante a manutenção de uma conversa. 
As funções mais importantes dos músculos da expressão da expressão facial relacionam-se com a alimentação, mastigação, fonação e piscar de olhos. Suas contrações produzem na face variações na forma de pregas e sulcos da pele que alteram a fisionomia e exteriorizam os sentimentos das pessoas. São as manifestações faciais das alterações do comportamento, a expressão das emoções. Esses músculos movem-se comandados tanto por uma via motora involuntária (programas motores não conscientes) como por uma via motora voluntária (programas motores conscientes). Assim, a expressão pode ser involuntária, natural e espontânea (mímica facial) mas também voluntária (chamada de expressão facial: termo usado para a comunicação volitiva; a especificação de algo para melhor fazê-lo entendido) (Madeira, 2001). 
Desta forma, é possível dosar uso e contração, diminuindo exageros desnecessários e buscando um funcionamento mais natural e um equilíbrio que não sobrecarregue, em demasia e desnecessariamente, a musculatura da expressão facial. 
Todas as sessões foram registradas em fichas e entregues à paciente com a orientação de realizar todos “os procedimentos apresentados” em seu dia-a-dia. Solicitou-se também uma observação constante de sua maneira de mastigar, deglutir e falar numa tentativa de controle, em seu cotidiano, do novo padrão alcançado em terapia. 
Após cinco sessões, de uma vez por semana, a evolução do caso foi esteticamente perceptível. Além de se alcançar o objetivo geral proposto de relaxar a musculatura dos terços médio e inferior da face, observou-se uma diminuição significativa das marcas de expressão e dos sulcos vincados ao redor da boca, proporcionando ao rosto da paciente um aspecto mais suave e harmonioso. Esses resultados foram notados também pela dermatologista que verificou estar a paciente sem os cordões causados pela aplicação do ácido hialurônico, contraindo menos a musculatura e com menos rugas funcionais e em repouso. A paciente referiu sentir-se aliviada como se antes deslocasse toda sua tensão corporal para essa região. Sua satisfação deveu-se também ao fato de estar consciente das mudanças na sua postura e nas funções da mastigação (uso bilateral), deglutição (eliminação de movimentos associados e normalização do uso do orbicular da boca) e fonação (readaptação de ponto e modo articulatórios somados à suavização da expressão facial durante a fala). 
Finalizado o tratamento fonoaudiológico, a paciente foi acompanhada por aproximadamente um ano e durante esse período não foi necessário realizar nenhum novo procedimento dermatológico na região perioral. Após um ano e meio a dermatologista realizou novamente um preenchimento de ácido hialurônico, desta vez com sucesso e em menos locais, uma vez que os resultados do tratamento fonoaudiológico se mantiveram até esse período.

DISCUSSÃO
Através deste caso percebemos a existência de um estreito relacionamento entre as marcas e vincos de expressão e o uso que se faz ao longo do tempo da musculatura orofacial. A tração repetitiva dos músculos da face durante a expressão facial e a realização das funções estomatognáticas pode gerar e aprofundar esses vincos, que com o passar do tempo transformam-se em rugas.

Por um lado têm-se as contrações sucessivas dos músculos da expressão facial durante as alterações de fisionomia e exteriorização dos sentimentos dos indivíduos, produzindo depressões na forma de linha ou fossa que com o avanço da idade gravam-se definitivamente na face (Madeira, 1998). Por outro lado os movimentos repetitivos realizados pelos indivíduos durante a realização das funções estomatognáticas podem ser determinantes no aparecimento desses vincos de expressão. Quando essas funções estão em equilíbrio, a repetição desses movimentos pode ser inofensiva, por determinado tempo, gerando apenas rugas transitórias. Porém quando realizados de maneira inadequada, por muito tempo e com uso abusivo da musculatura, esses movimentos podem esculpir precocemente as chamadas marcas ou rugas de expressão definitivas.

É importante explicitar que as rugas de expressão além de serem resultantes do uso e contração exagerada da musculatura orofacial também estão sob influência direta do processo natural do envelhecimento, que deve ser levado em consideração tanto na avaliação como durante todo o tratamento. Segundo Perricone (2001) e Macedo (1998), esse envelhecimento é altamente influenciado por fatores como: exposição solar; fumo ou fumaça de cigarro; toxinas ambientais; alimentação inadequada (carente sobretudo de vitaminas A, C, E e ácido fólico) e com alto teor de gordura/sal; pouca hidratação; consumo excessivo de álcool; situações de estresse; privação de sono; cosméticos agressivos e outros. Estes fatores devem fazer parte do conjunto de orientações passadas ao paciente.

TRABALHO CONJUNTO PREVENTIVO

Diante de tais constatações, iniciou-se um trabalho conjunto preventivo que tem como objetivo a diminuição de rugas pré-existentes. Esse trabalho pode ser empregado tanto em indivíduos que desejam prevenir rugas, como por aqueles que já enfrentam o problema. Os pacientes que estão em tratamento estético dermatológico na face e apresentam características semelhantes às citadas neste relato (ou seja, rugas ao redor da boca) são avaliados pela fonoaudióloga e se necessário inicia-se um plano terapêutico. A terapia fonoaudiológica é individualizada e o planejamento respeita as necessidades específicas de cada indivíduo (relacionamento entre funções estomatognáticas, expressão facial e as marcas do tempo), bem como as limitações originárias do binômio forma–função. A terapêutica miofuncional leva em conta o relacionamento entre vincos/rugas, desequilíbrios orais, tensões, movimentos exagerados e dinâmica das expressões.

O processo terapêutico é breve e em geral após 10 sessões, uma vez que todas as modificações são vivenciadas e incorporadas ao seu cotidiano, as pacientes, que são ativas no tratamento, tomam para si a responsabilidade por cuidar de sua nova aparência. De acordo com Fiore (apud Felício, 1994, p. 62) “o homem não pode libertar-se se ele não protagoniza sua história, se não toma a sua existência em suas mãos”.

No geral tem-se observado que após o tratamento fonoaudiológico os pacientes que, nessa experiência sempre foram do sexo feminino, referem:

- Alívio e suavidade significativa na região que contorna a boca, como se antes tencionassem inconscientemente e de maneira exagerada essa região.
- Nova harmonia em sua forma de mastigar, engolir, repousar a boca e até mesmo falar.
- Eliminação ou suavização das marcas/vincos de expressão dando ao rosto um aspecto mais harmonioso, fisionomia descansada, pele mais tonificada pela maior circulação sanguínea e expressão mais suave.

Percebeu-se que ao se reequilibrar as funções com conseqüente suavização no uso da musculatura orofacial, colabora-se no controle do aparecimento e aprofundamento dessas rugas de expressão indesejáveis.

Observa-se através das visitas de controle que as pacientes retornam com o mesmo aspecto que na sessão da alta ou ainda melhores. Isso demonstra que os resultados se mantêm.

Desta forma, o trabalho do fonoaudiólogo, somado às condutas dermatológicas, têm beneficiado de maneira ímpar as pacientes, que buscam um tratamento estético na região orofacial.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
É importante retomar, conforme já foi mencionado no início deste artigo, que quando a busca é pela beleza, estética e antienvelhecimento, todos os esforços são válidos. No caso aqui descrito como em todos que se seguiram, as pacientes demonstram extrema força de vontade e determinação na realização do trabalho, o que colabora diretamente no sucesso e rapidez do processo terapêutico. Assim sendo, a modificação de antigos hábitos tão internalizados torna-se mais rápida e eficiente, sendo referida pelas pacientes uma grande satisfação.

Como bem coloca Madeira (2001), a face atrai nossa atenção desde que somos bebês e continua a nos fascinar por toda a vida. É natural, portanto, que nela se concentrem os maiores esforços de promoção e conservação de sua estética e beleza.

A Fonoaudiologia é uma ciência que, a cada momento, conquista novos campos de trabalho, beneficiando os indivíduos ao prevenir e tratar suas necessidades individuais.

Acredita-se que mais estudos e pesquisas se fazem necessários para consolidar os achados e conclusões deste artigo, bem como responder a novas indagações. Mas fica evidente que se iniciou mais uma nova área de atuação no âmbito fonoaudiológico, a Fonoaudiologia e Estética Facial.

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